2024
São Romão e São Lupicino – 28 de Fevereiro
São Romão e São Lupicino – abade | 28 de Fevereiro
São Romão entrou para a vida religiosa com 35 anos, na França, onde nasceram os dois santos de hoje. Ele foi discernindo sua vocação, que o deixava inquieto, apesar de já estar na vida religiosa. Ao tomar as constituições de Cassiano e também o testemunho dos Padres do deserto, deixou o convento e foi peregrinar, procurando o lugar onde Deus o queria vivendo.
Indo para o Leste, encontrou uma natureza distante de todos e percebeu que Deus o queria ali.
Vivia dos trabalhos manuais, da oração e da leitura, até o seu irmão Lupicino, então viúvo, se unir a ele. Fundaram então um novo Mosteiro, que se baseava nas regras de São Pacômio, São Basílio e Cassiano.
Romão tinha um temperamento e caminhada espiritual onde com facilidade era dado à misericórdia, à compreensão e tolerância. Lupicino era justiça e intolerância. Nas diferenças, os irmãos se completavam e ajudavam aos irmãos da comunidade, que a santidade se dá nessa conjugação: amor, justiça, misericórdia, verdade, inspiração, transpiração, severidade, compreensão. Eles eram iguais na busca da santidade.
O Bispo Santo Hilário ordenou Romão, que faleceu em 463. E em 480 vai para a glória São Lupicino.
Santos Romão e Lupicino, rogai por nós!
2024
São Gabriel das Dores – 27 de Fevereiro
São Gabriel das Dores – religioso | 27 de Fevereiro
Nascido a 1838, em Assis, na Itália, dentro de uma família nobre e religiosa, recebeu o nome de batismo Francisco, em homenagem a São Francisco.
Na juventude, andou desviado por muitos caminhos, e era dado a leitura de romances, festas e danças. Por outro lado, o jovem se sentiu chamado a consagrar-se totalmente a Deus, no sacerdócio ministerial. Mas vivia ‘um pé lá, outro cá’. Ou seja, nas noitadas e na oração e penitência.
Aos 18 anos, desiludido, desanimado e arrependido, entrou numa procissão onde tinha a imagem de Nossa Senhora. Em meio a tantos toques de Deus, ouviu uma voz serena, a voz da Virgem Maria, que dizia que aquele mundo não era para ele, e que Deus o queria na religião.
Obediente a Santíssima Virgem, na fé, entrou para a Congregação dos Padres Passionistas. Ali, na radicalidade ao Evangelho, mudou o nome para Gabriel, e de acordo também com a sua devoção a Nossa Senhora, chamou-se então: Gabriel da Dores.
Antes de entrar para a Congregação, já tinha a saúde fraca, e com apenas 23 anos partiu para a glória, deixando o rastro da radicalidade em Deus.
Em meios as dores, São Gabriel viveu o santo Evangelho.
São Gabriel das Dores, rogai por nós!
2024
São Porfírio – 26 de Fevereiro
São Porfírio – bispo | 26 de Fevereiro
Nascido do ano de 353 em Tessalônica da Macedônia, Porfírio foi muito bem formado pelos seus pais, numa busca de piedade e vontade de Deus. Com 25 anos foi para o Egito, onde viveu a austeridade. Depois, seguiu para a Palestina, vivendo como eremita por 5 anos. Devido a uma enfermidade, seguiu para Jerusalém, onde se tratou.
São Porfírio percebia que faltava algo. Ele tinha herdado uma grande fortuna; e já tendo discípulos – que, vendo a ele seguir a Cristo, também quiseram seguir o nosso Senhor nos passos d’Ele – ele ordenou que esses discípulos fossem para Tessalônica e vendessem todos os bens. Ele, então, pôde dar tudo aos pobres.
Ele estava muito doente, mas através de uma visão, o Senhor o curou. Mais tarde, passou a trabalhar para ganhar o ‘pão de cada dia’, sempre confiando na Divina Providência.
O Patriarca de Jerusalém o ordenou sacerdote e, depois, Bispo em Gaza, tendo grande influência política e na religiosidade de todo o povo. Por meio do Espírito Santo e das autoridades, conseguiu que os templos pagãos fossem fechados e os ídolos destruídos. Não para acabar com a religiosidade, e sim para apontar a verdadeira religião: Nosso Senhor Jesus Cristo, único Senhor e Salvador.
Faleceu no século V, deixando-nos esse testemunho: nossa fé, nossa caridade, precisam ter uma ressonância dentro e fora da Igreja, para a glória de Deus e Salvação de todas as pessoas.
São Porfírio, rogai por nós!
2024
Santa Valburga – 25 de Fevereiro
Santa Valburga – abadessa | 25 de Fevereiro
Santa Valburga nasceu no ano de 710. Era filha de São Ricardo, rei dos Saxões do Oeste. Santa Valburga tinha dois irmãos: o bispo Vilibaldo e o monge Vunibaldo. Durante uma peregrinação com seu pai, mãe e irmãos aos Lugares Santos, Santa Valburga retirou-se numa abadia. E foi ali que descobriu a beleza do chamado de Deus, consagrando-se inteiramente ao Senhor. Seu pai veio a falecer durante a viagem de volta dessa peregrinação.
Em 748, foi enviada por sua abadessa à Alemanha, junto com outras religiosas, para fundar e implantar mosteiros e escolas entre populações recém-convertidas. Na viagem, uma grande tempestade foi aplacada pelas preces de Valburga, por ela Deus já operava milagres. Naquele país, foi recebida e apoiada pelo bispo Bonifácio, seu tio, que consolidava um grande trabalho de evangelização, auxiliado pelos sobrinhos missionários. Designou a sobrinha para a diocese de Eichestat, onde Vunibaldo havia construído um mosteiro em Heidenheim. Ambos concluíram o novo mosteiro e Valburga eleita a abadessa. Após a morte do irmão, ela passou a dirigir os dois mosteiros, função que exerceu durante dezessete anos. Nessa época, transpareceu a sua santidade nos exemplos de sua mortificação, bem como no seu amor ao silêncio e na sua devoção ao Senhor. As obras assistenciais executadas pelos seus religiosos fizeram destes mosteiros os mais famosos e procurados de toda a região.
Valburga se entregou a Deus de tal forma que os prodígios aconteciam com frequência. Os mais citados são: o de uma luz sobrenatural que envolveu sua cela enquanto rezava, presenciada por todas as outras religiosas e o da cura da filha de um barão, depois de uma noite de orações ao seu lado. Morreu no dia 25 de fevereiro de 779, e seu corpo foi enterrado no mosteiro de Heidenheim, onde permaneceu por oitenta anos. Mas, ao ser trasladado para a igreja de Eichestat, quando de sua canonização, em 893, o seu corpo foi encontrado ainda intacto. Além disso, das pedras do sepulcro brotava um fluído de aroma suave, como um óleo fino, fato que se repetiu sob o altar da igreja onde o corpo foi colocado. Nesta mesma cerimônia, algumas relíquias da Santa foram enviadas para a França do Norte, onde o rei Carlos III, o Simples, havia construído no seu palácio de Atinhy, uma igreja dedicada a Santa Valburga.
O seu culto, em 25 de fevereiro, espalhou-se rápido, porque o óleo continuou brotando. Atualmente, é recolhido em concha de prata e guardado em garrafinhas distribuídas para o mundo inteiro. Os devotos afirmam que opera milagres.
Santa Valburga, rogai por nós!
2024
São Sérgio – 24 de Fevereiro
São Sérgio – eremita e mártir | 24 de Fevereiro
Celebramos, neste dia, a santidade de vida do monge Sérgio, que chegou ao martírio devido seu grande amor à pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. São Sérgio vivia no deserto enquanto os cristãos estavam sendo perseguidos e entregando a vida em sacrifício de louvor.
Certa vez, o santo monge e intercessor foi movido pelo Espírito Santo para ir à Cesareia, onde lá ele encontrou, no centro da praça, a imagem de Júpiter, que era considerado o maior dos deuses entre os pagãos. Diante da imagem, os sacerdotes pagãos acusavam os cristãos e os condenavam, com o motivo de serem eles os culpados da omissão dos deuses diante das necessidades do povo.
Encorajado por Deus, São Sérgio levantou-se para denunciar as mentiras e anunciar, no poder do Espírito Santo, o Evangelho. Depois de fazer um lindo trabalho de evangelização, São Sérgio foi preso e, no século IV, partiu para a glória.
São Sérgio, rogai por nós!
2024
São Policarpo – 23 de Fevereiro
São Policarpo – bispo e mártir | 23 de Fevereiro
O santo deste dia é um dos grandes Padres Apostólicos, ou seja, pertencia ao número daqueles que conviveram com os primeiros apóstolos e serviram de elo entre a Igreja primitiva e a Igreja do mundo greco-romano.
São Policarpo foi ordenado Bispo de Esmirna pelo próprio São João, o Evangelista. De caráter reto, de elevado saber, amor à Igreja e fiel à ortodoxia da fé, era respeitado por todos no Oriente.
Com a perseguição aos cristãos, o santo Bispo de 86 anos, escondeu-se até ser preso e levado para o governador, que pretendia convencê-lo de ofender a Cristo. Policarpo, porém, proferiu estas palavras: “Há oitenta e seis anos sirvo a Cristo e nenhum mal tenho recebido dele. Como poderei rejeitar Àquele a quem prestei culto e reconheço como meu Salvador”.
Condenado à morte no estádio da cidade, ele próprio subiu na fogueira e testemunhou para o povo: “Sede bendito para sempre, ó Senhor; que o Vosso Nome adorável seja glorificado por todos os séculos”. São Policarpo viveu o seu nome – poli=muitos, carpo=fruto – muitos frutos”, que foram regados com suor, lágrimas e, no seu martírio, no ano de 155, regado também com sangue.
São Policarpo, rogai por nós!
2024
Cátedra de São Pedro – 22 de Fevereiro
Cátedra de São Pedro – festa | 22 de Fevereiro
É com alegria que hoje nós queremos conhecer um pouco mais a riqueza do significado da cátedra, do assento, da cadeira de São Pedro que se encontra na Itália, no Vaticano, na Basílica de São Pedro. Embora a Sé Episcopal seja na Basílica de São João de Latrão, a catedral de todas as catedrais, a cátedra com toda a sua riqueza, todo seu simbolismo se encontra na Basílica de São Pedro.
Fundamenta-se na Sagrada Escritura a autoridade do nosso Papa: encontramos no Evangelho de São Mateus no capítulo 6, essa pergunta que Jesus fez aos apóstolos e continua a fazer a cada um de nós: “E vós, quem dizei que eu sou?”. São Pedro, em nome dos apóstolos, pode assim afirmar: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Jesus então lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi nem a carne, nem o sangue que te revelou isso, mas meu Pai que está no céus, e eu te declaro: Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; eu te darei a chave dos céus tudo que será ligado na terra serás ligado no céu e tudo que desligares na terra, serás desligado nos céus”.
Logo, o fundador e o fundamento, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Crucificado que ressuscitou, a Verdade encarnada, foi Ele quem escolheu São Pedro para ser o primeiro Papa da Igreja, e o capacitou pelo Espírito Santo com o carisma chamado da infalibilidade. Esse carisma bebe da realidade da própria Igreja, porque a Igreja é infalível, uma vez que a alma da Igreja é o Espírito Santo, Espírito da verdade.
Enfim, em matéria de fé e de moral a Igreja é infalível, e o Papa, portando esse carisma da infalibilidade, ensina a verdade fundamentada na Sagrada Escritura, na Sagrada Tradição e a serviço como Pastor e Mestre.
De fato, o Papa está a serviço da Verdade, por isso, ao venerarmos e reconhecermos o valor da Cátedra de São Pedro, nós temos que olhar para esses fundamentos todos. Não é autoritarismo, é autoridade que vem do Alto, é referência no mundo onde o relativismo está crescendo, onde muitos não sabem mais onde está a Verdade.
Nós olhamos para Cristo, para a Sagrada Escritura, para São Pedro, para este Pastor e Mestre universal da Igreja; então, temos a segurança que Deus quer nos dar para alcançarmos a salvação e a espalharmos.
Essa vocação é do Papa, dos Bispos, dos Presbíteros e também de todo cristão.
São Pedro, rogai por nós!
2024
São Pedro Damião – 21 de Fevereiro
São Pedro Damião – bispo e doutor da Igreja | 21 de Fevereiro
São Pedro Damião, Bispo e Doutor da Igreja. Nasceu em Ravena, Itália no ano de 1007. Marcado desde cedo pelo sofrimento, porque perdeu os seus pais, foi morar e viver com seu irmão. No amor e no acolhimento, São Pedro Damião pode discernir a sua vocação.
Oração e penitência, algo que sempre acompanhou a vida de Pedro Damião; e algo que também precisa nos acompanhar constantemente.
São Pedro Damião discerniu sua vocação à vida religiosa e entrou para a Ordem dos Camaldulenses, no mosteiro de Fonte Avellana, na Úmbria, onde religiosos austeros levavam vida de eremitas.
Diante das regras e do que ele via e percebia, era preciso uma renovação, a começar por ele. Ao se abrir à ação do Espírito Santo, ao ser obediente às regras, outros também foram se ajuntando a Pedro Damião, fundaram outros mosteiros e deram essa contribuição.
A renovação de qualquer instituição passa pela renovação pessoal e também é válida para os tempos de hoje. As reclamações, as acusações, as rebeliões nada renovam, mas a decisão pessoal, a abertura a Deus, isso sim pode provocar, assim como provocou na vida e na história de São Pedro Damião uma renovação.
Deus pediu mais, e ele foi servir de maneira mais próxima à hierarquia da Igreja, sendo conselheiro de um Papa. Foi Bispo de Óstia, lugar perto de Roma, e também foi escolhido como Cardeal; algo que marcou a sua história.
São Pedro Damião, sua própria vida nos aconselha a oração, a penitência e o amor que se compromete com a renovação dos outros, pois, a partir da renovação pessoal, nós também ajudamos na renovação do outro e das instituições.
A Igreja precisa ser renovada constantemente, para isso somos chamados à nossa renovação pessoal, à conversão diária. Peçamos a intercessão do santo de hoje, que foi Bispo, Cardeal e Doutor da Igreja.
São Pedro Damião, rogai por nós!
2024
Santa Jacinta Marto – 20 de Fevereiro
Santa Jacinta Marto – pastorinha de Fátima | 20 de Fevereiro
Jacinta de Jesus Marto nasceu em Aljustrel, Fátima, a 11 de março de 1910. Foi batizada uma semana depois. Á ela junto com o irmão Francisco e a prima Lúcia, três simples crianças pastoras analfabetas, foi dada a graça de presenciar as aparições de Nossa Senhora, na sua pequenina aldeia.
Além das cinco aparições da Cova da Iria e uma dos Valinhos, Nossa Senhora apareceu à Jacinta mais quatro vezes em casa durante a doença, uma grave pneumonia que a acometeu juntamente com seu irmão Francisco.
Nessa primeira aparição, quando ambos já estavam acamados, assim descreve a pequenina: “Nossa Senhora veio nos ver e diz que vem buscar o Francisco muito em breve. E a mim perguntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-lhe que sim”. De fato, logo depois Francisco morreu santamente.
Nessa ocasião, ao aproximar-se o momento da partida de Francisco, Jacinta recomenda-lhe: “Leve muitas saudades minhas a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e diz-lhes que sofro tudo quanto Eles quiserem para converter os pecadores”. Jacinta ficara tão impressionada com a visão do inferno durante uma das aparições da Virgem em Fátima, ocorrida em 13 de julho de 1917, que nenhuma mortificação e penitência era demais para salvar os pecadores.
A vida da pequena Jacinta foi caracterizada por esse extremo espírito de sacrifício, o amor ao Coração de Maria, ao Santo Padre e aos pecadores. Sempre levada pela preocupação da salvação dos pecadores e do desagravo ao Coração Imaculado de Maria, de tudo oferecia um sacrifício a Deus, dizendo sempre a oração que Nossa Senhora lhes ensinara: “Ò Jesus, é por Vosso Amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria”.
Quase um ano depois da morte de Francisco, Jacinta faleceu, era 20 de fevereiro de 1920. O seu corpo foi enterrado no cemitério de Ourém, sendo transladado em 1935 para o cemitério de Fátima. Em 1951 foi finalmente transferida para a Basílica do Santuário.
No dia 13 de maio de 2000, dia da festa de Nossa Senhora de Fátima, foi um dia muito especial não só para os portugueses, mas para a família católica inteira. O Papa João Paulo II, esteve na cidade portuguesa para beatificar Jacinta de Jesus Marto, marcando sua celebração para a data de sua morte. A cerimônia ocorreu na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, com a presença da Irmã Lúcia de Jesus.
Os acontecimentos de Fátima e os pastorzinhos são porta-vozes do convite materno de Maria ao acolhimento, ao amor, à confiança, à pureza de vida e de coração e à entrega de si mesmo a Deus e aos outros, em atitude de solidariedade e de fé inquebrantável. A beatificação de Jacinta de Jesus Marto nos lembra a vocação última da Igreja e a comunhão dos santos. A sua canonização foi realizada pelo Papa Francisco no dia 13 de maio de 2017, por ocasião das celebrações do centenário das aparições de Fátima.
Santa Jacinta Marto, rogai por nós!
2024
Via Sacra
Oração da Via Sacra
Na Quaresma a Via Sacra, do latim “Via Crucis”, é um exercício espiritual muito recomendado pelos Papas, pois proporciona uma meditação e aproximação à Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, além de ser uma devoção rica, dotada de indulgência Plenária.
Segundo dispõe “O Manual das Indulgências”, edições Paulinas, 1990, “ indulgência é a remissão, diante de Deus da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja, a qual como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos”.
Portanto, conforme a definição, uma vez perdoados os pecados pelo o Sacramento da Confissão, perante Deus nos eximimos da culpa, mas não da pena temporal. Um exemplo: se tenho a infelicidade de cometer um pecado grave, mas arrependo-me e confesso-o a um sacerdote, o pecado é absolvido, ou seja, a culpa, porém a pena permanece. Como me livrarei de tal pena para que possa, ao morrer, alcançar diretamente a plenitude do Céu?
Entra aqui a riqueza da indulgência que poderá ser parcial ou plena, conforme liberta em parte ou no todo, da pena temporal devida pelos pecados.
Qualquer fiel batizado que atenda às condições previstas, ao praticar o exercício da Via Sacra com piedade e devoção, pode lucrar Indulgências Plenárias para si ou como sufrágio para as almas do purgatório.
Rezemos a Via Sacra
I Estação
Jesus é condenado à morte
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
O juiz que cometeu o crime profissional mais monstruoso de toda a História, não foi a ele impelido pelo tumultuar de nenhuma paixão ardente. Não o cegou o ódio ideológico, nem a ambição de novas riquezas, nem o desejo de comprazer a alguma Salomé. Moveu-o a condenar o Justo o receio de perder o cargo, parecendo pouco zeloso das prerrogativas de César; o medo de criar para si complicações políticas, desagradando ao populacho judeu; o medo instintivo de dizer “não”, de fazer o contrário do que se pede, de enfrentar o ambiente com atitudes e opiniões diferentes das que nele imperam.
Vós, Senhor, o fitastes por longo tempo com aquele olhar que em um segundo operou a salvação de Pedro. Era um olhar em que transparecia vossa suprema perfeição moral, vossa infinita inocência, e, entretanto, ele Vos condenou.
Senhor, quantas vezes imitei Pilatos! Quantas vezes, por amor à minha carreira, deixei que em minha presença a ortodoxia fosse perseguida, e me calei! Quantas vezes presenciei de braços cruzados a luta e o martírio dos que defendem vossa Igreja! E não tive a coragem de lhes dar sequer uma palavra de apoio, pela abominável preguiça de enfrentar os que me rodeiam, de dizer “não” aos que formam meu ambiente, pelo medo de ser “diferente dos outros”. Como se me tivésseis criado, Senhor, não para Vos imitar, mas para imitar servilmente os meus companheiros.
Naquele instante doloroso da condenação, Vós sofrestes por todos os covardes, por todos os moles, por todos os tíbios,… por mim, Senhor.
Meu Jesus, perdão e misericórdia. Pela fortaleza de que me destes exemplo arrostando a impopularidade e enfrentando a sentença do magistrado romano, curai em minha alma a chaga da moleza!
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
II Estação
Jesus leva a Cruz às costas
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
Inicia-se assim, meu adorado Senhor, a vossa caminhada para o lugar da imolação. Não quis o Pai Celeste que fôsseis morto num golpe fulminante. Vós teríeis de nos ensinar em vossa Paixão, não apenas a morrer, mas a enfrentar a morte. Enfrentá-la com serenidade, sem hesitação nem fraqueza, caminhando, até, para ela com o passo resoluto do guerreiro que avança para o combate, eis a admirável lição que me dais.
Diante da dor, meu Deus, quanta é a minha covardia! Ora contemporizo antes de tomar a minha cruz; ora recuo, traindo o dever; ora, por fim, eu o aceito, mas com tanto tédio, tanta moleza, que pareço odiar o fardo que vossa vontade me põe sobre os ombros.
Em outras ocasiões, quantas vezes fecho os olhos para não ver a dor! Cego-me voluntariamente com um otimismo estúpido, porque não tenho coragem de enfrentar a provação. E por isto minto a mim mesmo: não é verdade que a renúncia àquele prazer se impõe a mim para que não caia em pecado; não é verdade que devo vencer aquele hábito que favorece minhas mais entranhadas paixões; não é verdade que devo abandonar aquele ambiente, aquela amizade que minam e solapam toda a minha vida espiritual; não, nada disto é verdade… fecho os olhos, e atiro de lado minha cruz.
Meu Jesus, perdoai-me tanta preguiça, e pela chaga que a Cruz abriu em vossos ombros, curai, Pai de Misericórdias, a chaga horrível que em minha alma abri com anos inteiros vividos no relaxamento interior e na condescendência para comigo!
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
III Estação
Jesus cai pela primeira vez
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
Como então, Senhor? Não Vos era lícito abandonar vossa Cruz? Pois se a carregastes até que todas as vossas forças se exaurissem, até que o peso insuportável do madeiro Vos lançasse por terra, não estava bem provado que Vos era impossível prosseguir? Estava cumprido vosso dever. Os Anjos do Céu que levassem agora por Vós a Cruz. Vós havíeis sofrido em toda a medida do possível. Que mais haveríeis de dar?
Entretanto, agistes de outro modo, e destes à minha covardia uma alta lição. Esgotadas vossas forças, não renunciastes ao fardo, mas pedistes mais forças ainda, para carregar novamente a Cruz. E as obtivestes.
É difícil hoje a vida do cristão. Obrigado a lutar sem tréguas contra si, para se manter na linha dos Mandamentos, parece uma exceção extravagante num mundo que estadeia na luxúria e na opulência a alegria de viver. Pesa-nos aos ombros a cruz da fidelidade à vossa Lei, Senhor. E, por vezes, o fôlego parece faltar-nos.
Nestes instantes de prova, sofismamos. Já fizemos quanto em nós estava. Afinal, é tão limitada a força do homem! Deus terá isto em conta… deixemos cair a cruz à beira do caminho e afundemos suavemente na vida do prazer. Ah, quantas cruzes abandonadas à beira dos nossos caminhos, quiçá à beira dos meus caminhos!
Dai-me, Jesus, a graça de ficar abraçado à minha cruz, ainda quando eu desfaleça sob o peso dela. Dai-me a graça de me reerguer sempre que tiver desfalecido. Dai-me, Senhor, a graça suprema de nunca sair do caminho por onde devo chegar ao alto do meu próprio calvário.
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
IV Estação
Encontro de Jesus com sua Mãe
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
Quem, Senhora, vendo-Vos assim em pranto, ousaria perguntar por que chorais? Nem a Terra, nem o mar, nem todo o firmamento, poderiam servir de termo de comparação à vossa dor. Dai-me, minha Mãe, um pouco, pelo menos, desta dor. Dai-me a graça de chorar a Jesus, com as lágrimas de uma compunção sincera e profunda.
Sofreis em união a Jesus. Dai-me a graça de sofrer como Vós e como Ele. Vossa dor maior não foi por contemplar os inexprimíveis padecimentos corpóreos de vosso Divino Filho. Que são os males do corpo, em comparação com os da alma? Se Jesus sofresse todos aqueles tormentos, mas ao seu lado houvesse corações compassivos! Se o ódio mais estúpido, mais injusto, mais alvar, não ferisse o Sagrado Coração enormemente mais do que o peso da Cruz e dos maus tratos feriam o Corpo de Nosso Senhor! Mas a manifestação tumultuosa do ódio e da ingratidão daqueles a quem Ele tinha amado… a dois passos, estava um leproso a quem havia curado… mais longe, um cego a quem tinha restituído a vista… pouco além, um sofredor a quem tinha devolvido a paz. E todos pediam a sua morte, todos O odiavam, todos O injuriavam. Tudo isto fazia Jesus sofrer imensamente mais do que as inexprimíveis dores que pesavam sobre seu Corpo.
E havia pior. Havia o pior dos males. Havia o pecado, o pecado declarado, o pecado protuberante, o pecado atroz. Se todas aquelas ingratidões fossem feitas ao melhor dos homens, mas por absurdo não ofendessem a Deus! Mas elas eram feitas ao Homem-Deus, e constituíam contra toda a Trindade Santíssima um pecado supremo. Eis aí o mal maior da injustiça e da ingratidão.
Este mal não está tanto em ferir os direitos do benfeitor, mas em ofender a Deus. E de tantas e tantas causas de dor, a que mais Vos fazia sofrer, Mãe Santíssima, Redentor Divino, era por certo o pecado.
E eu? Lembro-me de meus pecados? Lembro-me, por exemplo, do meu primeiro pecado, ou do meu pecado mais recente? Da hora em que o cometi, do lugar, das pessoas que me rodeavam, dos motivos que me levaram a pecar? Se eu tivesse pensado em toda a ofensa que Vos traz um pecado, teria ousado desobedecer-Vos, Senhor?
Oh, minha Mãe, pela dor do santo Encontro, obtende-me a graça de ter sempre diante dos olhos Jesus Sofredor e Chagado, precisamente como O vistes neste passo da Paixão.
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
V Estação
Jesus ajudado pelo Cirineu a levar a Cruz
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
Quem era este Simão, que se sabe dele, senão que era de Cirene? E que sabe o geral dos homens sobre Cirene, senão que era a terra de Simão? Tanto o homem como a cidade emergiram da obscuridade para a glória, e para a mais alta das glórias, que é a glória sagrada, num momento em que bem outros eram os pensamentos do Cirineu.
Vinha ele despreocupado pela estrada. Pensava tão somente nos pequenos problemas e nos pequenos interesses de que se compõe a vida miúda da maior parte dos homens. Mas Vós, Senhor, atravessastes seu trajeto com vossas Chagas, vossa Cruz, vossa imensa dor. E a este Simão tocou tomar posição perante Vós. Forçaram-no a carregar convosco a Cruz. Ou ele a carregaria mal-humorado, indiferente a Vós, procurando tornar-se simpático ao povo por meio de algum novo modo de aumentar vossos tormentos de alma e de corpo; ou a carregaria com amor, com compaixão, sobranceiro ao populacho, procurando aliviar-Vos, procurando sofrer em si um pouco de vossa dor, para que sofrêsseis um pouco menos. O Cirineu preferiu padecer conVosco. E por isto seu nome é repetido com amor, com gratidão, com santa inveja, há dois mil anos, por todos os homens de fé, em toda a face da Terra, e assim continuará a ser até a consumação dos séculos.
Também pelos meus caminhos Vós passastes, meu Jesus. Passastes quando me chamastes das trevas do paganismo para o seio de vossa Igreja, com o Santo Batismo. Passastes quando meus pais me ensinaram a rezar. Passastes quando no curso de catecismo comecei a abrir a minha alma para a verdadeira doutrina católica e ortodoxa. Passastes na minha primeira Confissão, na minha primeira Comunhão, em todos os momentos em que vacilei e me amparastes, em todos os momentos em que caí e me reerguestes, em todos os momentos em que pedi e me atendestes.
E eu, Senhor? Ainda agora, passais por mim neste exercício da Via-Sacra. O que faço quando Vós passais por mim?
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
VI Estação
A Verônica enxuga o rosto de Jesus
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
Dir-se-ia, à primeira vista, que prêmio maior jamais houve na história. Com efeito, que rei teve nas mãos tecido mais precioso do que aquele Véu? Que general teve bandeira mais augusta? Que gesto de coragem e dedicação foi recompensado com favor mais extraordinário?
Entretanto, há uma graça que vale muito mais do que a de possuir milagrosamente estampada num véu a Santa Face do Salvador. No Véu, a representação da Face divina foi feita como num quadro. Na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana ela é feita como num espelho.
Em suas instituições, em sua doutrina, em suas leis, em sua unidade, em sua universalidade, em sua insuperável catolicidade, a Igreja é um verdadeiro espelho no qual se reflete nosso Divino Salvador. Mais ainda, Ela é o próprio Corpo Místico de Cristo.
E nós, todos nós, temos a graça de pertencer à Igreja, de sermos pedras vivas da Igreja!
Como devemos agradecer este favor! Não nos esqueçamos, porém, de que noblesse oblige. Pertencer à Igreja é coisa muito alta e muito árdua. Devemos pensar como a Igreja pensa, sentir como a Igreja sente, agir como a Igreja quer que procedamos em todas as circunstâncias de nossa vida. Isto supõe um senso católico real, uma pureza de costumes autêntica e completa, uma piedade profunda e sincera. Em outros termos, supõe o sacrifício de uma existência inteira.
E qual é o prêmio? Christianus alter Christus. Eu serei de modo exímio uma reprodução do próprio Cristo. A semelhança de Cristo se imprimirá, viva e sagrada, em minha própria alma.
Ah, Senhor, se é grande a graça concedida à Verônica, quanto maior é o favor que a mim me prometeis!
Peço-Vos força e resolução para, por meio de uma fidelidade a toda prova, verdadeiramente o alcançar.
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
VII Estação
Jesus cai pela segunda vez
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
Cair, estirar-se ao longo do chão, ficar aos pés de todos, dar pública manifestação de já não ter força, são estas as humilhações a que Vos quisestes sujeitar, Senhor, para minha lição. De Vós ninguém se condoeu. Redobraram as injúrias e os maus tratos. E enquanto isto vossa graça solicitava em vão, no íntimo daqueles corações empedernidos, um movimento de piedade.
Mesmo neste momento, quisestes continuar vossa Paixão para salvar os homens. Que homens? Todos, inclusive os que ali estavam, aumentando de todos os modos a vossa dor.
Em meu apostolado, Senhor, deverei continuar mesmo quando todas as minhas obras estiverem por terra, mesmo quando todos se conjugarem para atacar-me, mesmo quando a ingratidão e a perversidade daqueles a quem quis fazer bem se voltem contra mim.
Não terei a fraqueza de mudar de caminho para agradá-los. Minhas vias só podem ser as vossas, isto é, as vias da ortodoxia, da pureza, da austeridade. Mas, nos vossos caminhos sofrerei por eles. E unidas as minhas dores imperfeitas à vossa dor perfeita, à vossa dor infinitamente preciosa, continuarei a lhes fazer bem. Para que se salvem, ou para que as graças rejeitadas se acumulem sobre eles como brasas ardentes, clamando por punição. Foi o que fizestes com o povo deicida, e com todos aqueles que até o fim Vos rejeitaram.
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
VIII Estação
Jesus consola as filhas de Jerusalém
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
Não faltaram então almas boas, que percebiam a enormidade do pecado que se praticava, e temiam a justiça divina.
Não presencio eu algum pecado assim? Hoje em dia, não é bem verdade que o Vigário de Cristo é desobedecido, abandonado, traído? Não é bem verdade que as leis, as instituições, os costumes são cada vez mais hostis a Jesus Cristo? Não é bem verdade que se constrói todo um mundo, toda uma civilização baseada sobre a negação de Jesus Cristo? Não é bem verdade que Nossa Senhora falou em Fátima apontando todos estes pecados e pedindo penitência?
Entretanto, onde está essa penitência? Quantos são os que realmente vêem o pecado e procuram apontá-lo, denunciá-lo, combatê-lo, disputar-lhe passo a passo o terreno, erguer contra ele toda uma cruzada de idéias, de atos, de viva força se necessário for? Quantos são capazes de desfraldar o estandarte da ortodoxia absoluta e sem jaça, nos próprios lugares onde pompeia a impiedade, ou a piedade falsa? Quantos são os que vivem em união com a Igreja este momento que é trágico como trágica foi a Paixão, este momento crucial da História, em que uma humanidade inteira está escolhendo por Cristo ou contra Cristo?
Ah, meu Deus, quantos míopes que preferem não ver nem pressentir a realidade que lhes entra olhos a dentro! Quanta calmaria, quanto bem-estar miúdo, quanta pequena delícia rotineira! Quanto saboroso prato de lentilhas a comer!
Dai-me, Jesus, a graça de não ser deste número. A graça de seguir vosso conselho, isto é, de chorar por nós e pelos nossos. Não de um choro estéril, mas de um pranto que se verte aos vossos pés, e que, fecundado por Vós, se transforma para nós em perdão, em energias de apostolado, de luta, de intrepidez.
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
IX Estação
Jesus cai pela terceira vez
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
Estais, Senhor meu, mais cansado, mais depauperado, mais chagado, mais exangue do que nunca. Que Vos espera? Chegastes ao termo? Não. Precisamente o pior está para suceder. O crime mais atroz ainda está para ser praticado. As dores maiores ainda estão por serem sofridas. Estais por terra pela terceira vez e, entretanto, tudo isto que ficou para trás não é senão um prefácio. E eis que Vos vejo novamente movendo este Corpo que é todo ele uma chaga. O que parecia impossível se opera, e mais uma vez Vos pondes de pé lentamente, se bem que cada movimento seja para Vós mais uma dor. Eis-Vos, Senhor, ereto ainda uma vez… com vossa Cruz. Soubestes encontrar novas forças, novas energias, e continuais. Três quedas, três lições iguais de perseverança, cada qual mais pungente e mais expressiva que a outra.
Por que tanta insistência? Porque é insistente nossa covardia. Resolvemo-nos a tomar nossa cruz, mas a covardia volta sempre à carga. E para que ela ficasse sem pretextos em nossa fraqueza, quisestes Vós mesmo repetir três vezes a lição.
Sim, nossa fraqueza não pode servir-nos de pretexto. A graça, que Deus nunca recusa, pode o que as forças meramente naturais não poderiam.
Deus quer ser servido até o último alento, até a extenuação da última energia, e multiplica nossas capacidades de sofrer e de agir, para que nossa dedicação chegue aos extremos do imprevisível, do inverossímil, do miraculoso. A medida de amar a Deus consiste em amá-Lo sem medidas, disse São Francisco de Sales. A medida de lutar por Deus consiste em lutar sem medidas, diríamos nós.
Eu, porém, como me canso depressa! Nas minhas obras de apostolado, o menor sacrifício me detém, o menor esforço me causa horror, a menor luta me põe em fuga. Gosto do apostolado, sim. De um apostolado inteiramente conforme com minhas preferências e fantasias, a que me entrego quando quero, como quero, porque quero. E depois julgo ter feito a Deus uma imensa esmola.
Mas Deus não se contenta com isto. Para a Igreja, quer Ele toda a minha vida, quer organização, quer sagacidade, quer intrepidez, quer a inocência da pomba mas a astúcia da serpente, a doçura da ovelha mas a cólera irresistível e avassaladora do leão. Se for preciso sacrificar carreira, amizades, vínculos de parentesco, vaidades mesquinhas, hábitos inveterados, para servir a Nosso Senhor, devo fazê-lo. Pois que este passo da Paixão me ensina que a Deus devemos dar tudo, absolutamente tudo, e depois de ter dado tudo ainda devemos dar nossa própria vida.
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
X Estação
Jesus despojado de suas vestes
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
Tudo, sim, absolutamente tudo. Até vergonha devemos sofrer por amor de Deus e para a salvação das almas.
Aí está a prova. O Puro por excelência foi despido, e os impuros O escarneceram em sua pureza. E Nosso Senhor resistiu às chacotas da impureza.
Não parece insignificante que resista à chacota quem já resistiu a tantos tormentos? Entretanto, mais esta lição nos era necessária. Pelo desprezo de uma criada, São Pedro negou. Quantos homens terão abandonado Nosso Senhor pelo medo do ridículo! Pois se há gente que vai à guerra expor-se a tiros e morte, para não ser escarnecida como covarde, não é bem exato que há certos homens que têm mais medo de um riso do que de tudo?
O Divino Mestre enfrentou o ridículo. E nos ensinou que nada é ridículo quando está na linha da virtude e do bem.
Ensinai-me, Senhor, a refletir em mim a majestade de vosso Semblante e a força de vossa perseverança, quando os ímpios quiserem manejar contra mim a arma do ridículo.
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
XI Estação
Jesus pregado na Cruz
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
A impiedade escolheu para Vós, meu Senhor, o pior dos tormentos finais. O pior, sim, pois que é o que faz morrer lentamente, o que produz sofrimentos maiores, o que mais infamava, porque era reservado aos criminosos mais abjetos. Tudo foi aparelhado pelo inferno para Vos fazer sofrer, quer na alma, quer no corpo. Este ódio imenso não contém para mim alguma lição? Ai de mim, que jamais a compreenderei suficientemente se não chegar a ser santo. Entre Vós e o demônio, entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro, há um ódio profundo, irreconciliável, eterno. As trevas odeiam a luz, os filhos das trevas odeiam os filhos da luz, a luta entre uns e outros durará até a consumação dos séculos, e jamais haverá paz entre a raça da Mulher e a raça da Serpente… Para que se compreenda a extensão incomensurável, a imensidade deste ódio, contemple-se tudo quanto ele ousou fazer. É o Filho de Deus que aí está, transformado, na frase da Escritura, em um leproso no qual nada existe de são, num ente que se contorce como um verme sob a ação da dor, detestado, abandonado, pregado numa cruz entre dois vulgares ladrões. O Filho de Deus: que grandeza infinita, inimaginável, absoluta, se encerra nestas palavras! Eis, entretanto, o que o ódio ousou contra o Filho de Deus!
E toda a História do mundo, toda a História da Igreja não é senão esta luta inexorável entre os que são de Deus e os que são do demônio, entre os que são da Virgem e os que são da serpente. Luta na qual não há apenas equívoco da inteligência, nem só fraqueza, mas também maldade, maldade deliberada, culpada, pecaminosa, nas hostes angélicas e humanas que seguem a Satanás.
Eis o que precisa ser dito, comentado, lembrado, acentuado, proclamado, e mais uma vez lembrado aos pés da Cruz. Pois que somos tais, e o liberalismo a tal ponto nos desfigurou, que estamos sempre propensos a esquecer este aspecto imprescindível da Paixão.
Conhecia-o bem a Virgem das Virgens, a Mãe de todas as dores, que junto de seu Filho participava da Paixão. Conhecia-o bem o Apóstolo virgem que aos pés da Cruz recebeu Maria como Mãe, e com isto teve o maior legado que jamais foi dado a um homem receber. Porque há certas verdades que Deus reservou para os puros, e nega aos impuros.
Minha Mãe, no momento em que até o bom ladrão mereceu perdão, pedi que Jesus me perdoe toda a cegueira com que tenho considerado a obra das trevas que se trama em redor de mim.
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
XII Estação
Jesus morre na Cruz
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
Chegou por fim o ápice de todas as dores. É um ápice tão alto, que se envolve nas nuvens do mistério. Os padecimentos físicos atingiram seu extremo. Os sofrimentos morais alcançaram seu auge. Um outro tormento deveria ser o cume de tão inexprimível dor: “Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonastes?” De um certo modo misterioso, o próprio Verbo Encarnado foi afligido pela tortura espiritual do abandono, em que a alma não tem consolações de Deus. E tal foi este tormento, que Ele, de quem os Evangelistas não registraram uma só palavra de dor, proferiu aquele brado lancinante: “Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonastes?”
Sim, por quê? Por que, se era Ele a própria inocência? Abandono terrível, seguido da morte e da perturbação de toda a natureza. O sol se velou. O Céu perdeu seu esplendor. A Terra estremeceu. O véu do Templo de rasgou. A desolação cobriu todo o universo.
Por quê? Para remir o homem. Para destruir o 20pecado. Para abrir as portas do Céu. O ápice do sofrimento foi o ápice da vitória. Estava morta a morte. A Terra purificada era como um grande campo desbastado, para que sobre ela se edificasse a Igreja.
Tudo isto foi, pois, para salvar. Salvar os homens. Salvar este homem que sou eu. Minha salvação custou todo este preço. E eu não regatearei mais sacrifício algum para assegurar salvação tão preciosa. Pela água e pelo Sangue que verteram de vosso divino Lado, pela Chaga de vosso Coração, pelas dores de Maria Santíssima, Jesus, dai-me forças para me desapegar das pessoas, das coisas que me possam distanciar de Vós. Morram hoje, pregadas na Cruz, todas as amizades, todos os afetos, todas as ambições, todos os deleites que de Vós me separavam.
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
XIII Estação
Jesus descido da Cruz
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
O repouso do Sepulcro Vos aguarda, Senhor. Nas sombras da morte, abris o Céu aos justos do limbo, enquanto na Terra, em torno de vossa Mãe, se reúnem uns poucos fiéis para Vos tributar honras funerárias. Há no silêncio destes instantes uma primeira claridade de esperança que nasce. Estas primeiras homenagens que Vos são prestadas são o marco inaugural de uma série de atos de amor da humanidade redimida, que se prolongarão até o fim dos séculos.
Quadro de dor, de desolação, mas de muita paz. Quadro em que se pressagia algo de triunfal nos cuidados indizíveis com que vosso divino Corpo é tratado.
Sim, aquelas almas piedosas se condoíam, mas algo nelas lhes fazia pressentir em Vós o Triunfador glorioso.
Possa eu também, Senhor, nas grandes desolações da Igreja, ser sempre fiel, estar presente nas horas mais tristes, conservando inabalável a certeza de que vossa Esposa triunfará pela fidelidade dos bons, pois que A assiste a vossa proteção.
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
XIV Estação
Jesus posto no sepulcro
V. Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.
Correu-se a laje. Parece tudo acabado. É o momento em que tudo começa. É o reagrupamento dos Apóstolos. É o renascer das dedicações, das esperanças. A Páscoa se aproxima.
Ao mesmo tempo, o ódio dos inimigos ronda em torno do sepulcro e de Maria Santíssima e dos Apóstolos.
Mas Eles não temem. E em pouco raiará a manhã da Ressurreição.
Possa também eu, Senhor Jesus, não temer. Não temer quando tudo parecer perdido irremediavelmente. Não temer quando todas as forças da Terra parecerem postas em mãos de vossos inimigos. Não temer porque estou aos pés de Nossa Senhora, junto da qual se reagruparão sempre, e sempre mais uma vez, para novas vitórias, os verdadeiros seguidores da vossa Igreja.
Pai nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
V. Tende piedade de nós Senhor. R. Tende piedade.
V. Pela misericórdia de Deus descansem as almas dos fiéis defuntos.. R. Amém.
Ajude-nos a continuar nosso trabalho de evangelização e catequisação das crianças de todo o Brasil!